UM POUCO DA TRAJETÓRIA, RECONSTRUÇÃO E REMODELAGEM DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DE MARAÃ-AM NO RIO JAPURÁ

 

A RECONSTRUÇÃO E  REMODELAGEM DA IGREJA CATÓLICA DE NOSSA SENHORA DA IMACULADA CONCEIÇÃO, NA CIDADE DE MARAÃ-AM, NO RIO JAPURÁ


A atual igreja de Nossa Senhora da Conceição de Maraã-Am, localizada na histórica praça municipal da cidade. Foi construída em 1969 e já passou por várias reconstruções e, remodelagem. Maraã está localizada há mais de 650 km subindo o rio, saindo do porto de Manaus.









O andor de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, retornando à Catedral Metropolitana de Manaus-Am, logo  após a procissão pelas ruas do Centro da cidade, a 8 de dezembro de 2018 (dois anos antes da Pandemia do coronavirus de 2020). A inspiração de fé à padroeira, ao município de Maraã, vem da padroeira da capital amazonense. Muitos fiéis, fervorosos devotos da santa, acompanham o andor, em forma de uma barca dourada, para conseguir algumas flores que julgam serem milagrosas após o percurso do trajeto da caminhada. A palavra conceição vem de "concepção", no caso da nomenclatura de  Nossa Senhora, é a que concebeu, a que esta a gerir o fruto divino...


Desde o primeiro momento do assentamento da povoação de comunitários, ao novo local onde se instalaria a futura cidade de Maraã-Am, vindos todos do antigo lugar de Jacitara, no alto rio Japurá, houve os anseios de se fundar naquele novo local, de construção comunitária, uma igreja à fé católica. Sobre a invocação de Nossa Senhora da Imaculada Conceição. A igreja católica de Maraã começaria sua missão, ao ano de 1969. Foi no mesmo ano de elevação da nova localidade à emancipação e status de cidade. 



Os habitantes do antigo  Jacitara dariam início a construção de um novo lugar para se viver e se construir uma nova vida. As antigas terras de Jacitara, levadas pelas águas do Japurá o qual devorou muitos sonhos e, a origem daquela gente toda, se tornariam lendárias. Por fim o povo findou se instalando na boca do "lago do Maraã". O vocábulo "maraã" vem do katukina, dialeto do clã Kanamari. Maramuyã (ou marâ) (significaria "lago das lendas" ou "estórias"), atribuído a nomenclatura ao lago. Teria sido aportuguesado para expressão contracta "maraã". Na obra da antropóloga Maria Labiak, Frutos do Céu e Frutos da Terra, se define a expressão. Em 1920 (cerca de cem anos atrás) o povo Kanamari, vindo em andanças do rio Jutai, chega ao local onde hoje está assentada a cidade. 




O cenário frontal  da cidade de Maraã-Am, localizada numa remota curva do rio Japurá, onde as águas se encontram com o gramado verde da frente daquela cidade, causam um profundo alento aos olhares dos que chegam ao pequeno lugarejo, construído pela força da intrepidez  do antigo povo do memorável Jacitara...


Todavia, os Kanamari foram relocados para dentro do lago, à meia hora de canoa da cidade. Segundo o escritor Abguar Bastos, na obra Terra de Icamiaba,  a derivação "maranduera" (que provem da palavra "marâ",  significa - o contador de estórias - "maran" somado a "duera".  E assim foi, que, o novo lugar seria batizado de - Cidade de Maraã (a Cidade das estórias), por causa de sua instalação bem ali, na entrada daquele lago chamado pelo povo Kanamri de "lago das estórias". Então, aquela gente simples e muito humilde, que deixou seu antigo torrão - o Jacitara ( jacy = lua, tara =  fogo, brilho - lugar do brilho da lua), o qual foi tragado pelas correntezas do velho Japurá, pelo fenômeno da terra-caída (erosão fluvial). Os habitantes a partir dalí, deixariam de ser os "jacitarenses" e se tornariam, para sempre, - os maraenses.  


Alguns adereços retirados do andor tradicional da Catedral de Manaus-Am, após a procissão. A gôndola que transporta a imagem de Nossa Senhora da Imaculada Conceição é uma barca toda alegórica. Algumas peças, como três anjos guardiões e um turíbulo dourado, são encaixados apenas para a procissão. Logo ao término são retirados da barca dourada e guardados no museu da Catedral.



Vem de Portugal a devoção brasileira à santa Imaculada, foi oficializada em 1640 por D. João IV, primeiro rei da Dinastia dos Bragança, a 1 de dezembro daquele ano. Mas a primeira imagem a chegar no Brasil, veio na nau de Pedro Alvares Cabral, em 1500. No Amazonas, a primeira igreja consagrada a Nossa Senhora da Imaculada Conceição, data de 1695. Desde então, o culto a Maria, a mãe dos povos católicos, se estendeu a todo o estado. A primeira imagem a ser trazida para Manaus, provavelmente ainda no século XVII, tem pouco mais de 30 cm, está exposta no museu da Catedral da capital amazonense. A pequena imagem, no início do século XIX, saiu intacta de um incêndio que consumiu parte do prédio da antiga Matriz. Somente depois, foi posta a atual imagem, em tamanho natural, instalada no altar mor da Matriz amazonense. Em 29 de junho de 1945 (em plena segunda guerra mundial), foi inaugurada a sua decoração que até hoje está exposta no altar, inclusive a pintura azul, com a pequena revoada de querubins.




Após a procissão, pelas ruas do centro de Manaus, o tradicional andor de Nossa Senhora da Conceição, em forma de uma barca dourada, é levado de volta ao museu da Catedral Metropolitana pelos paroquianos para ser guardado por um ano inteiro, até se chegar ao novo dia de procissão no ano seguinte. Antes, dezenas de devotos disputam as flores que são usadas para enfeitar a sacra nau. Muitos acreditam que após a caminhada, as flores passaram por um processo de energização espiritual, por isso teriam propriedades milagrosas. É um antigo conceito que faz parte do catolicismo popular cuja ação foge do poder de liturgia da igreja. Alguns adereços do andor são desmontados para que possa passar na porta de entrada frontal da Catedral. 


Lógico que todas as mudanças levariam até anos para serem consolidadas ao novo lugar de Maraã, pois sair do local onde se nasceu, cresceu e se construiu toda uma vida, não foi tarefa das mais fáceis a ninguém. Mas a lancha Jacitara, fazendo mais de uma viagem de ida e volta, trouxe a todos... Dando-se vazão à construção de um novo cenário de vida, em um novo assentamento, não seria algo tão simplório aqueles "primeiros habitantes" a uma nova cidade. Porém, nasceria a esse novo cenário a edificação da primeira igreja católica daquela nova urbe. Tanto a cidade quanto o edifício da igreja, foram tomando forma juntos, um do outro. 


A primeira fachada da igreja de Nossa Senhora da Imaculada Conceição em Maraã-Am apresentava essa configuração da foto até meados dos anos 90 do século passado. No centro da praça um palanque de madeira no lugar do coreto que ainda não havia sido construído.



Foi uma sincronia fervorosa e de muita fé daquele povo. Há exatamente 51 anos atrás. Quem chega hoje a cidade de Maraã, nem imagina, que toda a estrutura daquela praça, e do edifício do atual templo da igreja, a de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, localizado no Centro da cidade, já passaram por inúmeras mudanças de engenharia e intervenções de arquitetura. Depois que a igreja foi construída na segunda rua da cidade, que corta e cruza com a rua 31 de março, a praça atual foi ganhando seus novos contornos e adereços. Tudo foi sendo remodelado para se chegar a um novo tempo e momento.




Até meados dos anos 90 (1995) A praça principal da cidade de Maraã tinha esse aspecto de paz e assimilação do tempo, que parecia passar mais devagar do que o rio Japurá descendo seu curso milenar.


Não existem muitos dados desse processo de construção e, de remodelagem,  guardados pelos antigos arquivos da casa paroquial de Maraã. Muitas informações ficaram apenas na memória dos mais antigos habitantes. Por isso, é necessário se fazer esse  resgate de informações, e apresentar aos que buscarão um dia, os detalhes, das origens da cidade e do município. Em 2006, um fato sinistro, provocado pelas forças da natureza, ocorreu com a antiga cobertura da igreja. Um vendaval arrancou fora toda sua estrutura. O ocorrido fez com que toda sua comunidade se mobilizasse a se reconstruir tudo de novo!    




A súbita tempestade do ano de 2006 ocorreu  com a nova reforma da igreja. A cobertura instalada, à base de ferro e telhas de zinco (alumínio), não resistiram à ação das forças da natureza. Foram arrancadas...





Foi necessário reformar toda a cobertura para que houvesse segurança a se voltar a  celebrar missas e novenas no interior do templo. Na foto, o telhado desabado dentro da igreja.




Após toda uma reforma realizada, às reestruturação e remodelação daquele templo, os paroquianos tiveram que retornar à solicitação de recursos da comunidade católica de Maraã a se reconstruir toda a estrutura de cobertura da igreja novamente, mas nunca se desistiu do trabalho ou da obra. Tudo deu certo! A sociedade se mobilizou mais uma vez em busca de recursos a se reconstruir o teto da igreja dedicada as celebrações de Nossa Senhora da Imaculada Conceição.




Um livro de ouro foi aberto para se arrecadar os fundos a fim de se reconstruir toda a cobertura novamente. Cada pessoa, independente de sua contribuição, assinava seu nome para se guardar e se registrar sua contribuição de fé e de dedicação a sua comunidade cristã. Não importava o tamanho da contribuição, mas a espontânea dedicação dos paroquianos, devotos e fiéis a sua paróquia. Isso foi o mais importante.





Enquanto se reconstruía a cobertura da igreja, as missas, novenas e outras celebrações da Paróquia de Nossa Senhora da Imaculada Conceição de Maraã-Am eram realizadas no histórico centro social da comunidade, localizado na mesma praça da igreja. O centro se chama: Centro Social Papa João Paulo II.


A prelazia  da cidade de Tefé-Am, coordenada pelos padres da ordem do Divino Espírito Santo ( os Espiritanos ), é a que rege os sacerdotes e  paroquianos das áreas do médio Solimões e do  alto Japurá. Desse modo, todas as missões católicas atuais, naquela área geográfica, são de responsabilidade de Tefé, desde o final do século XIX. É um trabalho árduo,  cheio de desafios, pois a Amazônia sempre impõe seus obstáculos naturais, sempre põe a prova a fé de todos que nela nasceram ou chegaram para se viver, através das décadas que se foi construindo as cidades e as comunidades. Nossa Senhora da Imaculada Conceição é a padroeira católica também da capital (Manaus) e do Estado do Amazonas.




Imagem em tamanho natural de Nossa Senhora da Conceição posta no altar  da Matriz de Manaus-Am, uma das mais belas imagens do Estado do Amazonas. Possui características peculiares. É representada por uma mulher jovem, grávida, de longos cabelos que lhes caem as costas, manto azul celeste, posto por sobre seu ventre, cujo foi concebido sem o pecado original. Mãos sore o peito em sinal de oração, rosto de cor alva com uma fisionomia de características suaves e, de semblante  adocicado, olhando respeitosamente aos céus. Tanto na parede pintada como um céu azul do altar, quanto no pedestal que porta a imagem da santa, voam querubins, ou pequenos anjos com características de bebês. Toda a alegoria só ficou totalmente terminada em junho de 1945.


Todo dia 8 de dezembro, desde 1969, ocorre em Maraã, após o novenário, a procissão em homenagem a Nossa Senhora. Todas as noites, para se celebrar e animar o período  do festejo, após as novenas na igreja, acontece o tradicional arraial de arrecadação social às obras e investimentos de pagamentos as despesas pastorais, com vendas de: pratos típicos, bebidas diversas e leilão de frango assado. Esse é um modo de fazer os devotos se confraternizarem na comunidade. Em décadas mais distantes, havia grande participação de comerciantes (chamados tradicionalmente de marreteiros), vindos da Capital do estado, os quais armavam suas barracas cheias de novidades para serem vendidas aos moradores e visitantes da cidade. 



Com o passar das cinco décadas de fundação da cidade de Maraã, a catedral foi ganhando uma nova fachada. Aos dias atuais, sua fundação, construção, reconstrução e remodelagem recontam uma história de arquitetura e engenharia á cidade.




Ao início da primeira década dos anos de 2000, a igreja construída, a partir de 1969, perderia todas as características primordiais para receber uma torre e novas formas arquitetônicas. Tudo foi modificado.


Todavia, atualmente, a cidade teve um grande crescimento comercial cujo sempre tem os produtos mais diversos para o consumo de uma população a qual já passa de mais de 18.000 mil habitantes! A cidade cresceu muito, e suas comunidades rurais, tradicionais, que são 99 ao todo, também apresentaram crescimento populacional. Mas não há apenas a prática da fé católica dentro do contexto sócio religioso do município, existem inúmeros templos, de outras denominações cristã-religiosas, que somam à população  com a pregação da Palavra ao povo local. Todos conjugam de união e fraternidade. 




Rua Beira Rio da cidade de Maraã onde a igreja Nossa Senhora da Conceição foi instala desde 1969. Foto de 1995. Era uma época de crescimento e desenvolvimento do comércio e da própria cidade.




Vinte e cinco anos depois (2018), na mesma rua Beira Rio, se observa o crescimento do comércio e de uma população que tem anseios ao progresso, com melhor qualidade de vida e, do desenvolvimento, em todas as áreas de produção da cidade, principalmente na área da educação. No canto direito (inferior da foto - primeiro plano), a famosa loja, conhecida de "Sete-portas", uma das primeiras mercearias tradicionais da cidade.


No início da construção da comunidade católica de Maraã, havia mais fervorosidade com as celebrações de novenas, arrais e procissão. Atualmente, com as inovações tecnológicas, dos novos templos de outra denominações, e vários atrativos de recreação aos populares, perdeu-se um pouco do brilho desse evento católico. Mas nunca deixado de ser realizado.



Por toda cidade de Maraã se instala novos templos cristãos,  de várias denominações religiosas, que vêm somar à Palavra a missão de se profetizar a fé e  a espiritualização dos que se doam a todas as formas de se adorar ao Deus Cristão.

Enquanto isso, instalada no centro histórico da cidade de Maraã, a igreja de Nossa Senhora da Imaculada Conceição chega aos 51 anos de sua fundação. Sua presença na praça principal é um elemento que conta e reconta a história oficial e antropológica de Maraã, no alto rio Japurá.




A visão da igreja para o rio Japurá retrata os anseio de um povo que sempre aguarda as melhoras e as boas assistências a sua pequena cidade, às margens daquele. Assim são as esperanças...


Contudo, a fé daqueles que sempre se doaram e, ainda,  doam até hoje sua devoção a Nossa Senhora da Imaculada Conceição, fazem desses momentos de festejos e celebrações, de novenas à igreja, serem sempre vivos e dispostos a se reconquistar o coração da população. 








Nas áreas mais distantes do centro da cidade, se ergue, aos poucos, a nova igreja católica da cidade de Maraã. É o segundo templo católico a ser construído na área urbana daquela pequena cidade. Atualmente já ocorrem missas e novenas no prédio que ainda está em construção. O novo templo é dedicado a Nossa Senhora de Fátima.





A atualidade, a igreja de Nossa Senhora da imaculada Conceição de Maraã-Am, é dotada de todo um conforto para receber a população, em todos os domingos e terças-feiras, são os respectivos  dias que acontecem as missas e novenas.


Após mais de 50 anos de fundação, a cidade começa a construir sua segunda igreja católica nas áreas periféricas da área urbana da Cidade de Maraã. A nova edificação, modesta e simples, será dedicada a Nossa Senhora de Fátima, chamada e conhecida dos portugueses como: a branca Senhora da Paz...



"Por fim, meu Imaculado coração triunfará"...

Nossa Senhora de Fátima

A 13 de outubro de 1917.





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Referências


Bastos, Abguar. Terra de Icamiaba (Romance Amazônico) / Abguar Bastos. 3. ed. rev. Manaus: Editora da Universidade do Amazonas, 1997. 218 p. 22 cm


Cabrolié. Augusto, Tefé e a Cultura Amazônica. Instituto Paulo Freire. Juiz de Fora. MG. 1996.

Cabrolié. Augusto, Síntese da História de Tefé. Mnaus-Am, 1984.


Duarte, Durango Martins. Manaus entre o passado e o presente/ Durango Martins Duarte - 1ª ed. Manaus: Ed. Mídia Ponto Comum, 2009. 


Filme - O Milagre de Fátima - Filme de 1952 - Uma renovação de Fé, dirigido por John Brahm, filme norte-americano.


Labiak, Araci Maria. Frutos do Céu e Frutos da Terra: aspectos da cosmologia Kanamari no Warapekon/ Araci Maria Labiak. - Manaus: Editora da Universidade Federal do Amazonas, Faculdade Salesiana Dom Bosco, 2007.


Megale, Nilza Botelho. O livro de ouro dos Santos. Rio de Janeiro : Ediouro, 2003 


Paroquia de Nossa Senhora da Imaculada Conceição de Maraã - Am/ fotos e documentos (antigos) Cedidos por Padre Hélio (pároco da cidade / 2018) Fotos recentes - blog a Missão







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